Poema do precipício



Neste antro infernal partido em dois lados
Cheio de perseguidores e perseguidos
Repleto de atormentadores e atormentados
Encontra-se o reles homem perdido

Os ossos que lhe formam a estrutura
E sustentam sua pele, frágil casca
Após descer à gélida sepultura
Deteriora-se e o verme masca

Após anseios vãos haver nutrido
O cadáver que outrora era mancebo
Tornando-se pútrido, fedido
Ignorara outrora ir tão cedo

Veio a doença e o conduziu ao orco
Tirando-lhe da face a altivez
E para aquele que dela fez pouco
Ceifou a vida e o sorriso se desfez.

Roberto Codax
16/06/2020

Tombado


Contemplem minha destruição
Sou como um prédio outrora imponente
Hoje em total deterioração

O que já foi o lar de um poeta aclamado
Hoje não passa de um velho casarão tombado
O que já foi o berço de tantas rimas
Hoje encontra-se em ruínas

Destroços de minha memória
Desabam todos os dias
Quando tentei entrar para a história
Restou-me apenas a agonia

De saber que hoje não passo
De uma estrutura devorada pelo tempo
E a ferrugem que devora o que já foi aço
Também me devora pelo tormento

Como um velho casarão histórico
Hoje encontro-me tombado
E eu, que tanto queria um fim heroico
Acho-me pelos cantos jogado

Quando eu acordar do sono da vida




Quando eu acordar do sono da vida
Não quero ver ninguém infeliz
Quero que meus amigos riam na hora da partida
Bebendo e relembrando tudo o que fiz

Quando eu acordar do sono da vida
Quero despedir-me sorrindo dos entes queridos
Para que não sofram com a partida
Do filho distante, porém nunca esquecido

Quando eu acordar do sono da vida
Não quero lágrimas nos olhos da minh’amada
Quero que saiba que sempre foi querida
E que deu-me forças pra seguir na árdua estrada

Que conduz aos homens de volta à essência
Desde a tenra infância até o seu ocaso
Pra o destino que espera a todos sem clemência
Tendo estabelecido desde o nascer seu prazo

Quando a dama de preto vier me buscar
Para habitar em seu estranho mundo
E com seu frio beijo minha vida ceifar
Finalmente despertarei deste sono profundo

Correspondência


Nesses longos dias sem cor que tardam a passar
Só a lembrança do teu riso me traz alento
Quando me arrebata o estranho sentimento
De entrar nesta casa e não te encontrar

Tudo aqui tornou-se estranho sem tua presença
Olho para o que é meu e sinto estranheza
Acomete-me de súbito uma descrença
E novamente sou inundado pela tristeza

Quando tua gargalhada ecoa pela casa
Meu triste coração enche-se de esperança
Como um pássaro que cura as asas
Como um ancião que volta a ser criança

Mas quando partes levando o teu riso
Tudo o que me resta são lembranças
Do teu abraço que tanto preciso
Para me livrar de toda a desesperança

Sinto-me como um soldado em guerra
Que só continua a lutar por causa da sua amada
Sem ti toda a vontade se encerra
Apenas teus braços me inspiram a voltar pra casa

Sobre o autor

“Escrevo pela simples necessidade de sentir meus próprios sentimentos e ouvir meus pensamentos que vagam sem ressonância neste mundo de surdos. Eu escrevo pra tentar compreender a mim mesmo, não para responder questões às quais nunca saberei a resposta.(Roberto Codax)

Roberto Codax. Tecnologia do Blogger.